Ante avalanche de críticas, Brasil vai insistir em propostas para paz na Ucrânia

Published: 18 de abr. de 2023 00:18 UTC3min read
Por Lisandra Paraguassu BRASÍLIA (Reuters) – A recepção brasileira ao chanceler russo, Sergei Lavrov, e uma série de comentários do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a guerra da Ucrânia após a viagem à China levaram o Brasil ser acusado de comprar um lado no
Most Popular

Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) – A recepção brasileira ao chanceler russo, Sergei Lavrov, e uma série de comentários do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a guerra da Ucrânia após a viagem à China levaram o Brasil ser acusado de comprar um lado no conflito, com o governo norte-americano dizendo que o país está repetindo propaganda russa e chinesa.

Advertisement
Know where Markets is headed? Take advantage now with

Your capital is at risk

No governo brasileiro, no entanto, as críticas são devolvidas. Apesar de haver um reconhecimento de que algumas falas de Lula “causaram ruído”, a visão é de que existe uma pressão para que Brasília se alinhe totalmente com as posições norte-americanas e da União Europeia, disse à Reuters uma fonte diplomática.

Nas últimas semanas, Lula afirmou que talvez a Crimeia, região da Ucrânia ocupada pela Rússia desde 2014, pudesse continuar sob o governo de Vladimir Putin. Em viagem à China, afirmou que os dois países tinham interesse na guerra e, na última sexta-feira, afirmou que EUA e UE deveriam parar de fornecer armas e “incentivar” o conflito.

A recepção do ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, nesta segunda-feira, na qual ele celebrou que o Brasil “entendia” as razões da Rússia para iniciar a guerra, coroou o mal-estar.

A resposta veio. Peter Stano, porta-voz para assuntos externos da UE, afirmou que a Rússia “é a única responsável” pela guerra na Ucrânia. À Reuters, um embaixador europeu disse que “soou o alarme” a declaração do presidente de que os países deveriam parar de enviar armas à Ucrânia.

“É uma guerra de agressão e defesa. Se eles (ucranianos) não tivessem armas, perderiam o direito a autodefesa”, disse o diplomata.

A reação mais dura veio dos Estados Unidos. John Kirby, conselheiro de Segurança da Casa Branca, afirmou que o Brasil “estava repetindo como papagaio a propaganda russa e chinesa”, e que os comentários feitos por Lula foram “simplesmente mal orientados.”

Perguntado sobre a fala de Kirby, o chanceler Mauro Vieira rechaçou a fala no norte-americano. “De forma alguma concordo. Não sei como nem porquê ele chegou a essa conclusão, mas não concordo de forma alguma”, disse o chanceler ao sair do encontro entre Lavrov e Lula, no Palácio da Alvorada.

Vieira ressaltou que não tinha visto a fala: “Desconheço as razões pelas quais ele disse isso”.

A menção à China pela Casa Branca acontece depois que Lula disse que “ninguém” impediria o Brasil de se aproximar de Pequim, num contexto de tensão entre as potências.

A visão oficial brasileira é que existe uma exigência de “alinhamento absoluto” por parte dos Estados Unidos, o que não irá acontecer.

“Tem ruídos, mas não muda a posição brasileira, que condenou a invasão russa e continua condenando”, disse a fonte. “Incomoda, porque o Brasil está no meio do debate e não está nem de um lado nem de outro. Tem uma voz própria que não obedece”, disse a fonte.

Se Lula falou várias vezes do conflito — com jornalistas no Brasil, na volta da China e nos Emirados Árabes Unidos — e não se furtou a opinar sobre questões espinhosas, como armas e Crimeia, seus assessores vinham sendo mais comedidos.

A chancelaria e o assessor especial do Planalto, Celso Amorim, que esteve em Moscou a pedido do presidente, ven repetindo a posição brasileira de condenação da invasão da Ucrânia pela Rússia, defendida pelo país na ONU, e dizendo que o foco deveria ser na saída do conflito, sem teses prévias.

Até o momento, com essa condução, o Brasil tinha conseguido o apoio do francês Emmanuel Macron para a ideia de criação de um grupo de países para negociar o fim da guerra, com a possível participação da China.

Seja como for, na visão brasileira a avaliação é de que os ruídos são normais e são dirimidos na diplomacia. E, mesmo com a reação, o Brasil vai continuar batendo na tecla da necessidade de discutir a paz.

Há uma admissão, no entanto, de que o momento para isso não é agora, que os países não estão pronto para sentar e falar sobre um acordo de paz. “Tem que esperar primavera, verão… e ver o que acontece. Mas nós vamos continuar insistindo, alguém tem que falar sobre a paz”, disse a fonte.

(Reportagem adicional de Anthony Boadle)

Don't miss a thing! Sign up for a daily update delivered to your inbox

Latest Articles

See All